sábado, 30 de novembro de 2013

QUEM SÃO NOSSOS ÍDOLOS?


Esse texto de Claudio de Moura Castro é muito interessante, pois faz uma comparação muito inteligente entre a dedicação no esporte e na educação escolar. Como o futebol, por exemplo, que é um esporte que influencia milhões, nada melhor do que o seu ídolo futebolístico ser um cidadão exemplar e dedicado na sua profissão, para que sigamos o seu exemplo e sejamos um também.
Como diz uma citação do próprio Claudio de Moura Castro, "Nossa educação ainda valoriza o aluno genial, que não estuda. Precisamos de modelos que mostrem o caminho do sucesso por via do esforço e da dedicação".

O êxito em nossa educação passa por uma evolução semelhante à que aconteceu no desporte (de Heleno de Freitas e Garrincha para Ayrton Senna e Pelé) – da emoção para a razão. É preciso que o sucesso escolar passe a ser visto como resultado da disciplina, do paroxismo de dedicação, da premeditação e do método na consecução de objetivos.

“Cada época tem seus ídolos, pois eles são a tradução de anseios, esperanças, sonhos e identidade cultural daquele momento. Mas, ao mesmo tempo, reforçam e ajudam a materializar esses modelos de pensar e agir.Já faz muito tempo, Heleno de Freitas foi um grande ídolo do futebol. Segundo consta, jactava-se de tomar uma cachacinha antes do jogo, para aumentar a criatividade. Entrava em campo exibindo seu bigodinho e, após o gol, puxava o pente e corrigia o penteado. O ídolo era a genialidade pura do futebol-arte.Mais tarde, Garrincha era a expressão do povo, com sua alegria e ingenuidade. Era o jogador cujo estilo brotava naturalmente. Era a espontaneidade, como pessoa e como jogo, e era facilmente amado pelos brasileiros, pois materializava as virtudes da criação genial.Para o jogador "cavador", cabia não mais do que um prêmio de consolação. Até que veio Pelé. Genial, sim. Mas disciplinado, dedicado e totalmente comprometido a usar todas as energias para levar a cabo sua tarefa. E de atleta completo e brilhante passou a ser um cidadão exemplar.É bem adiante que vem Ayrton Senna. Tinha talento, sem dúvida. Mas tinha mais do que isso. Tinha a obsessão da disciplina, do detalhe e da dedicação total e completa. Era o talento a serviço do método e da premeditação, que são muito mais críticos nesse desporto.Há mais do que uma coincidência nessa evolução. Nossa escolha de ídolos evoluiu porque evoluímos. Nossos ídolos do passado refletiam nossa imaturidade. Era a época de Macunaíma. Era a apologia da genialidade pura. Só talento, pois esforço é careta. Admirávamos quem era talentoso por graça de Deus e desdenhávamos o sucesso originado do esforço. Amadurecemos. Cresceu o peso da razão nos ídolos. A emoção ingênua recuou. Hoje criamos espaço para os ídolos cujo êxito é, em grande medida, resultado da dedicação e da disciplina – como Pelé e Senna.”
 Claudio de Moura Castro. VEJA, Ed. 1703 – 06 de junho de 2001.



AUTOR: PEDRO BARROS

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